Cá estamos nós a falar de mais um Festival de Cannes e, pá, não consigo deixar de pensar no quão estranho é transformarmos a arte em competição. É mesmo curioso como um evento que celebra a criatividade e as vozes únicas acaba sempre por criar vencedores e vencidos. Mas pronto, é o que temos – e este ano temos mesmo uma pérola para discutir: “A Simple Accident”, o filme que levou a Palma de Ouro para casa.
Um “Acidente” Nada Simples
O novo filme de Jafar Panahi começa com um acontecimento banal – uma avaria numa estrada qualquer. Mas não se deixem enganar. O que se segue é uma montanha-russa de emoções e decisões cada vez mais complexas, culminando num final que nos deixa completamente à nora. É daqueles filmes que nos põe a agarrar o sofá com força!
Cinema de Guerrilha à Iraniana
O mais fixe disto tudo é ver como Panahi consegue fazer tanto com tão pouco. Uma carrinha, uns atores, e está feito o caldo entornado. O gajo tem um jeito brutal para misturar humor com crítica social, sem nunca perder o fio à meada da narrativa. E olhem que não é fácil, tendo em conta o ambiente hostil em que trabalha no Irão.
Muito Mais Que Política
Seria fácil rotular isto como “apenas” cinema político, mas seria fazer-lhe um desserviço brutal. Sim, há aqui uma crítica forte à sociedade iraniana, mas também há uma história que nos agarra do princípio ao fim. O Panahi é mesmo craque em nos entreter enquanto nos faz pensar – uma combinação que não é para qualquer um.
E pronto, malta, este filme é daqueles que nos deixa a matutar durante dias. Não é a minha escolha favorita de Cannes este ano, mas percebo perfeitamente porque é que o júri ficou rendido. Que acham vocês? Já viram algum filme do Panahi? E o que pensam desta tendência de transformar festivais de cinema em competições?
Deixem lá nos comentários as vossas opiniões. Adorava saber o que a malta portuguesa pensa deste tipo de cinema que nos tira da nossa zona de conforto!